Você não é uma fraude. Mas seu cérebro está te convencendo disso.

Eu tinha acabado de subir ao palco para dar uma palestra sobre autoestima para mais de 800 mulheres. Minhas mãos suavam, meu coração disparava. Não era o nervosismo normal que antecede uma apresentação. 

Era algo mais profundo.

“O que estou fazendo aqui? Quem sou eu para falar sobre esse tema? E se descobrirem que não sou tão equilibrada quanto pareço?”

O medo de ser desmascarada me consumia por dentro, mesmo com toda a bagagem, estudos e experiência que tinha. Eu estava vivendo, ali mesmo, no palco, a Síndrome da Impostora.

Confesso que demorei para entender que esse sentimento tem nome, tem causa e, mais importante, não é exclusivamente meu.

Você também já teve medo de ser descoberta como uma fraude?

A Síndrome da Impostora não é sobre incompetência. É sobre uma distorção na forma como você enxerga suas próprias conquistas.

Vamos direto ao ponto: a Síndrome da Impostora é esse fenômeno em que as mulheres competentes não conseguem internalizar suas realizações e vivem com medo constante de serem “desmascaradas”.

É como se houvesse uma voz interna dizendo que você não merece estar onde está, que foi sorte, ou que engana todo mundo com sua suposta capacidade.

E adivinhe? Quanto mais você conquista, pior pode ficar.

 

Por que sentimos isso?

Essa síndrome não escolhe classe social ou idade, embora as pesquisas mostram que afeta mais mulheres – especialmente as bem-sucedidas.

Mas, sem dúvida, ela tem preferência por perfeccionistas, por mulheres que foram criadas para valorizar excessivamente o desempenho, e por quem cresceu escutando que “precisa sempre dar o melhor”.

O problema é que sempre existirá alguém mais experiente, mais inteligente ou mais capacitada em algum aspecto. Se você baseou sua autoestima apenas no seu desempenho, você criou o cenário perfeito para a insegurança crônica.

Sua competência não é o que define seu valor como mulher.

Quando olho para trás, percebo como eu me cobrava. Cada palestra precisava ser impecável.

Cada texto tinha que gerar uma revolução. Cada conversa com uma aluna deveria transformar sua vida. Era uma régua tão alta que nem mesmo eu, em sã consciência, aplicaria a outra mulher.

Será que você não está fazendo o mesmo? Criando uma régua inalcançável e depois se sentindo uma fraude por não atingi-la?

mascara

 

Os disfarces da Síndrome da Impostora

A Síndrome da Impostora aparece de várias formas. Qual é a sua?

A Perfeccionista – Não é sobre fazer bem feito, é sobre achar que NADA que você faz é bom o suficiente.

A Especialista – Sente que precisa saber absolutamente TUDO sobre um assunto antes de se manifestar. É aquela que estuda muito, mas nunca sai do lugar.

A Solitária – Precisa fazer tudo sozinha, porque pedir ajuda significa revelar sua “incompetência”.

A Super-heroína – Trabalha mais que todas, para compensar sua suposta “inadequação”.

A Gênia Natural – Se não aprende algo instantaneamente, acredita que é porque não tem o “dom”.

A verdade? Todos esses disfarces são apenas manifestações diferentes do mesmo medo básico: “Não sou suficiente”.

Eu me identificava muito com o perfeccionismo. Na minha cabeça, se algo não estivesse perfeito, seria a prova de que eu não merecia estar onde estava. 

Foi libertador perceber que essa era apenas uma distorção, não uma verdade sobre mim.

Qual desses disfarces é  o seu preferido?

 

O lado sombrio que ninguém conta

disfarce

Quer saber o efeito mais perigoso dessa síndrome? Ela te rouba a possibilidade de crescer de verdade.

Quando você está constantemente se provando, não há espaço para vulnerabilidade, para aprender com os erros, para pedir feedback honesto. 

Você fica tão preocupada em parecer competente que deixa de se tornar realmente mais competente.

Mas, tem outro lado ainda mais triste: enquanto você se diminui por dentro, mulheres com metade do seu talento e o dobro da sua confiança ocupam os espaços que poderiam ser seus. E homens com um terço do seu talento nem questionam se merecem estar lá.

Você está permitindo que sua insegurança defina os limites da sua contribuição ao mundo?

 

As raízes profundas

Para quebrar esse padrão, precisamos olhar para suas raízes. E elas geralmente estão plantadas na nossa infância.

Se você cresceu em um ambiente onde o amor parecia condicional ao seu desempenho, onde elogios vinham apenas quando você “superava as expectativas”, ou onde havia muita importância em resultados e pouca validação do seu valor de verdade, provavelmente desenvolveu essa síndrome.

Trago verdades: como mulheres, fomos ensinadas desde cedo que precisamos ser excepcionais apenas para sermos consideradas boas o suficiente. 

A menina dentro de você aprendeu que precisa “merecer” amor e aceitação através de conquistas. E agora, mesmo adulta, continua acreditando nisso.

Que tal começar a questionar essa crença?

O amor verdadeiro – por si mesma e pelos outros – não é baseado em desempenho. Ele simplesmente é. Incondicional. Sem pré-requisitos.

Seu valor como mulher não depende do que você produz, conquista ou aparenta.

O que seria possível na sua vida se você acreditasse, de verdade, que é suficiente exatamente como é?

 

Como transformar esse padrão

padrao

Libertar-se da Síndrome da Impostora é um processo. Aqui estão algumas práticas que me ajudaram:

Documente seus sucessos – Crie um “arquivo de evidências” com conquistas e momentos de superação. Consulte-o quando a síndrome atacar.

Normalize a imperfeição – Comece a falar abertamente sobre seus erros e dificuldades. Você verá que isso não diminui o respeito que as pessoas têm por você.

Reconheça o padrão – Apenas nomear “isso é minha síndrome da impostora falando” já diminui seu poder.

Redefina o sucesso – Sucesso não é perfeição ou aprovação de todos. É crescer, contribuir e viver alinhado com seus valores.

Tenha conversas honestas – Fale sobre esses sentimentos com pessoas de confiança. Você ficará surpresa ao descobrir quantas delas sentem o mesmo.

Uma prática potente que incorporei é o que chamo de “Reescrita de Narrativa”. Quando me pego pensando “eu não mereço estar aqui”, reescrevo ativamente para “eu trabalhei para estar aqui e continuo aprendendo todos os dias”.

Não é sobre negar a insegurança, mas sobre reconhecê-la e escolher uma perspectiva mais realista.

 

A verdadeira competência inclui vulnerabilidade

Ao admitir que não sabe tudo, que está aprendendo, que comete erros, você não parece menos competente – você parece mais humana, mais autêntica e, acredite, muito mais confiável.

As mulheres mais admiráveis não são aquelas que nunca falham, mas as que sabem lidar com as falhas com graça e aprender com elas.

Você não precisa ser perfeita para ser valiosa. Na verdade, sua imperfeição é o que te torna humana e capaz de conectar-se de verdade com as outras pessoas. 

Para refletir:

  • O que você poderia tentar se não tivesse medo de falhar?
  • Quais evidências concretas você tem de que é competente no que faz?
  • Se sua melhor amiga se sentisse como você se sente, o que você diria a ela?

O processo de superar a Síndrome da Impostora não é sobre nunca mais se sentir insegura. É sobre reconhecer esses sentimentos quando surgem e não permitir que eles definam suas escolhas.

E lembre-se: se você se preocupa em ser uma impostora, provavelmente não é uma. 

Os verdadeiros impostores raramente questionam sua capacidade ou mérito. Sua autoconsciência já é um sinal da sua autenticidade.

Está tudo certo não se sentir pronta para todos os desafios. Ninguém está. As pessoas que parecem sempre confiantes geralmente são as que menos se conhecem.

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Fantástica explicação e reflexão! Muito UAUUUU!

Ola carol bom dia,ja me senti muitas vez assim porem dia pos dia sinto mas confiante
obrigada por cada insentivo de coracao

Eu amo suas palavras, sempre fazem me enxergar.

Gostei muito desta pauta.Interessante e desafiador para nos conhecermos melhor

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