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Carol Rache

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Você ouviu falar sobre alguém que se separou, depois que a pandemia começou? Os índices, de fato, apontam aumento no número de rompimentos. Mas será mesmo que a causa foi a pandemia?

Filhos em home scholling, home office e pessoas confinadas podem ser, sim, a receita perfeita para o caos. Contudo, relações que não sobrevivem a contextos caóticos são como prédios que não se sustentam diante de terremotos: o problema está na fundação, e não no tremor.

Quando a estabilidade da terra firme vai embora, faz-se necessário sustentar-se em estruturas sólidas. Assim é na engenharia, e assim é no casamento. Casais que viviam em um “modus operandi” que maquiava a fragilidade da fundação viram teto voar e paredes, literalmente, desmoronar.

As relações que eram sustentadas por qualquer outro motivo que não uma intenção genuína de compartilhar a vida, ficaram, de fato, muito comprometidas. Aqueles que apenas “suportavam” a convivência com o cônjuge se viram obrigados a conviver sem escapes. E isso, é claro, trouxe à tona toda poeira que o casal há empurrava para debaixo do tapete.

Percebe que o problema não foi a pandemia, mas sim o que ela revelou? Quantos foram os mecanismos de distração que ela impossibilitou? Muitos. E, sem estratégias de fuga, a falta de parceria, de interesse, de respeito, de paciência, de admiração e de laços genuínos ficou, para muitos, evidente.

Pode-se dizer que, nesse sentido, a Covid trouxe um convite. Casais foram intimados a parar, sentir, observar e avaliar. Garanto que alguns continuam se escolhendo e optaram por reforçar, com parceria e afeto, as estruturas da própria construção.

Outros, contudo, se viram despidos da própria ilusão e precisaram encarar a verdade sobre a própria relação. O que, afinal, não é de todo ruim. O esforço de equilibrar um prédio que não tem fundação é sobre-humano. Muitas vezes, é melhor mesmo assumir a desconexão e aceitar a demolição.

A intenção dessa reflexão não é enobrecer os pares que se sustentaram ou julgar os que se desfizeram. Ficar nem sempre é sinal de saúde, e partir nem sempre é sinal de fracasso.
O que nos faz verdadeiramente nobre é a nossa capacidade de autorevisão. Jogar as falhas da nossa construção na conta da pandemia é transformar a vida real em pura ficção. Não é necessário terceirizar. Pelo contrário, é preciso se apropriar. Se apropriar da responsabilidade, se apropriar das negligências, se apropriar da própria cegueira, ou, simplesmente, se apropriar da variação dos afetos.

Relacionamentos nascem da interação entre os envolvidos. E é ali, também, que morrem. Não tem terremoto que derrube um prédio estável, mas não tem, também, sentido em sustentar um edifício abandonado.

Somos livres para poder reforçar o que construímos ou para desenhar novos projetos. O fundamental é que saibamos ficar pelas motivações certas, ou justificar a saída com razões honestar.

Jogar na conta da pandemia é se esquivar do protagonismo e da responsabilidade que desempenha-se dentro dessa dinâmica chamada casamento. Quem se apropria dessa responsabilidade cresce. E, quem foge dela, se ilude.